
A GRANDE ROMARIA
GUIMARAES – BARCELOS – VIANA DO CASTELO
“HAVEMOS DE IR A VIANA”
A passagem em viagens anteriores pela grande romaria do Minho, deixara a vontade de voltar a visitar esta tão grande manifestação popular. Autocaravana “arrumada” para o caminho, estrada nacional até ao Porto. Estadia de uns dias na Cidade Invicta, e depois devagarinho até ao parque de estacionamento que fica por detrás do castelo de Guimarães. Não tem nada que nos engane, é contornar o castelo pela esquerda e o parque aparece á direita, cuidado com o desnível da entrada. Estacionamento amplo e caso haja companhia, pode ser uma solução de pernoita.
Nos tempos em que os Muçulmanos e Normandos, assolavam estes territórios, Mumadona Dias, uma Condessa viúva do muito importante Conde Hermenegildo Gonçalves, que tinha sido senhor destes domínios, manda construir uma fortaleza para proteger o Mosteiro que tinha fundado na parte baixa da povoação de Vimaranes. Passa um século e estes domínios são doados pelo rei de Leão e Castela Afonso VI, a D. Henrique de Borgonha, vindo a formar o Condado Portucalense. Este casa com D. Teresa têm um filho chamado Henriques e depois é o que se sabe… desavenças familiares, várias batalhas e hoje Guimarães é considerada a cidade berço… onde nasceu Portugal.
Junto ao castelo encontramos a capela românica da Igreja de São Miguel da Oliveira, onde segundo a tradição, terá sido batizado o primeiro rei de Portugal.
Tão importante lugar e tão pouca a importância dada este local, Quando viajamos por outros países, e nos deparamos com lugares em que um facto como este, seja verídico ou apenas lenda, tem uma aproveitamento imenso para o turismo, e reparamos no quase abandono que por aqui encontramos…
Continuando a visita pela elevação onde se encontra o castelo, podemos visitar o Paço dos Duques de Bragança.
Construído no séc. XV por D. Afonso I de Bragança, mostra uma influencia do estilo Borgonhês.
Depois da mudança de residência dos duques para o Palácio de Vila Viçosa, atravessou uma fase menos nobre da sua existência com ocupações diversas, até que o Estado Novo o recuperou para residência oficial da presidência. A recuperação arquitectónica pode ter sido polemica, mas a visita ás salas, onde se procura recriar o espaço original, é agradável.
Descemos a encosta do castelo até á cidade
Onde o centro histórico, com o seu labirinto de ruas e vielas sinuosas que vão desembocar em praças com esplanadas, convidam a que por ali no sentemos na contemplação do trabalho feito na recuperação arquitectónica, efectuado para o ano de 2012, em que esta foi a Capital da Cultura Europeia.
Quando vínhamos do castelo, a descer a encosta, passámos por uma tabuleta que fazia anuncio á ementa do restaurante, “Art & Gula”, ficámos com curiosidade, e foi por lá que almoçamos, cumpriu razoavelmente o que tinha sido proposto no letreiro.
A cidade de Guimarães merece uma visita mais demorada, talvez na altura das festas da cidade, as Festas Gualterianas, realizam-se desde 1452, acontecem na primeira semana de Agosto e têm um mercado medieval.
Por agora tínhamos que continuar a viagem
Despedimo-nos do Henrique, ele sempre com aquele ar de poucos amigos…
Voltámos á autocaravana, e percorremos 15Km para Noroeste, até á Citânia de Briteiros. Para o estacionamento tem de se ter algum cuidado, especialmente autocaravanas com maiores dimensões.
Este sitio arqueológico da Idade do Ferro, fica situado no Monte de São Romão, muito perto dos Santuários do Sameiro e do Bom Jesus de Braga
A citânia foi descoberta pelo arqueólogo Martins Sarmento em 1875, e deve ter estado ocupado até ao séc. III. Apresenta as características encontradas nos castros do noroeste da Península Ibérica.
A pacificação da região, sob o domínio da cultura romana, evidente em muitos vestígios encontrados nas ruinas, sobrepôs-se á cultura Celta.
A pacificação de toda esta região terá levado ao abandono deste complexo habitacional, com a consequente deslocação das povos, para terrenos agrícolas mais fáceis de trabalhar.
Na recepção do complexo arqueológico, está instalado um pequeno café com uma esplanada sobre uma paisagem, como só o norte de Portugal oferece, por lá ficámos em boa companhia, a saborear um gelado neste fim de tarde.
A viagem para Barcelos, foi feita com o Sol a desaparecer no horizonte. Chegámos já noite e fomos estacionar junto ás piscinas. Fica perto de serviços Camarários, e de manhã cedo os funcionários e utentes podem tornar o local, um pouco barulhento.
N 41° 31´44´´
W 8° 36´56´
A noite foi calma, mas de manhã mudámos o estacionamento para junto das escolas, estávamos em período de férias e era mais sossegado.
N 41° 31´47´´
W 8° 36´51´
Muito perto do centro histórico, são apenas alguns minutos a pé…
Barcelos e o seu Galo, uma lenda que merece ser conhecida e que se tornou a imagem de Portugal no mundo.
Mas esta cidade medieval fortificada, que se estende numa colina sobranceira ao rio Cávado, tem muito mais para oferecer, as suas casas barrocas, o património histórico-religioso e muito especialmente as suas gentes, tornam a visita numa recordação que guardaremos com prazer.
Uma das Igrejas mais curiosas que se podem ver em Barcelos, é a Igreja do Bom Jesus da Cruz, construída em 1710, constitui um notável exemplar da arquitetura barroca de influencia italiana em Portugal.
Esta igreja está ligada á lenda da “Cruz de Terra Bem Negra”, um milagre que terá acontecido em 1500, que é possível conhecer num dos ecrãs instalados junto á porta de entrada, e que disponibilizam informações sobre o monumento. Esta ideia devia ser seguida em todos os monumentos do país!!!
Passear por Barcelos é ir conhecendo a história de Portugal, a Igreja Matriz de Santa Maria de Barcelos, séc. XIII, e que neste dia estava animado por um casamento em que todos os carros tinham matricula estrangeira…
A Ponte Medieval, construída por Pedro Afonso. Conde de Barcelos em 1328, e uma das importantes passagens dos peregrinos do Caminho Português de Santiago.
Povoação conquistada pelos primeiros reis de Leão aquando da reconquista cristã da península, Barcelos nunca possuiu um castelo propriamente dito. A Torre do Cimo da Vila também referida como de Barcelos, ou da Porta Nova, ou da Cadeia, era a Torre de Menagem da povoação.
Muitos foram os fins para que tem sido usada ao longo dos séculos, Atualmente alberga o Centro de Artesanato de Barcelos. No posto de turismo, localizado junto á Torre, também o artesanato tem lugar de destaque com uma exposição permanente sobre os artesãos locais, a vista sobre a cidade é um motivo mais do que suficiente para que acedamos ao topo da Torre.
Perto da Torre, no Largo Doutor José Novais fica a “Associação de Artesãos o Galo”. Cooperativa de modeladores do barro e de outras artes artesanais, que transformam materiais rudes, em peças de tanta beleza, e que tão bem testemunham a vivencia do nosso povo.
Onde entre muitas outras, podemos encontrar a peça que devemos transportar na autocaravana em todas as nossa viagens…
O GALO DE BARCELOS
Não subestimem o poder do Galo de Barcelos, em conversa com o responsável pela loja…
Ficámos a conhecer a viagem pelo espaço do nosso símbolo popular.
Não percam o vídeo desta viagem épica!
http://marconeiva.com/missao-levar-o-galo-de-barcelos-ao-espaco/
E o almoço? Sim porque isto do artesanato é muito bonito, mas a fome já apertava… Fomos ao escondidinho, existe um escondidinho em todas as terras, é só procura-lo, este fica muito perto…Almoço completo por 5€!
O café foi já tomado numa das agradáveis esplanadas do centro histórico, uma ultima olhadela pelo painel que nos mostrava todas as festas do concelho, e regressámos á autocaravana para seguir viagem.
Destino seguinte, Viana do Castelo.
A ideia era chegar logo a seguir á hora do almoço de sexta-feira, esperávamos que fosse possível encontrar um lugar para estacionar junto á praça de touros, a grande enchente começaria no fim de tarde deste dia e continuaria pelo sábado e domingo. Missão cumprida!!!
N 41° 41´50´´
W 8° 48´54´
E vamos para a GRANDE ROMARIA SRA. DA AGONIA
Primeiro o posto de turismo para obtermos o programa das festas, mas já não havia como escapar, o espírito de festa estava por todo o lado, a alegria do povo minhoto contagia todos, e mesmo os turistas mais circunspectos não resistem… a um bom cabeçudo!
A animação é constante, e percorre as ruas do centro histórico de Viana, mais do que quaisquer palavras, que se tentem escrever sobre esta romaria, o melhor é vive-la, misturemo-nos com os foliões, vamos acompanhar os bombos…
Dançar com os “Gigantones e Cabeçudos”
Tudo isto com um envolvimento arquitectónico que remonta a muitos séculos atrás, como a “Casa dos Velhos” obra quatrocentista, construída por José Velho, homem de muita influencia no século XV, especialmente na Confraria dos Mareantes.
Mas a festa está sempre presente, aqui o amigo Canário canta mais umas desgarradas ao despique.
Convém estar atento ao programa, para não se perder algum dos eventos mais significativos das festas. Aqui tudo estava preparado para o desfile “Vamos para a Serenata”. Seria ás 21h dava para ir jantar á autocaravana e regressar.
Pelo caminho não havia como resistir ás bancas com os artigos do artesanato local, e lá foi uma camisa de linho bordada…
A proximidade do local de estacionamento, permite uma deslocação rápida á autocaravana e o regresso para se continuar a viver toda a festa noturna.
O regresso foi tardio… mas as bancas lá continuavam á nossa espera, agora tinha mesmo de ser, uma socas com motivos minhotos…e feitas ali á nossa frente.
Mais uma fartura para o caminho…
Finalmente o “Regresso dos Guerreiros”, isto das romarias cansa, e já apetecia o conforto da autocaravana para uma noite tranquila.
Quando acordámos no sábado de manhã, todo o espaço á nossa volta tinha sido tomado… as tendas armadas, as mesas prontas para as várias refeições do dia, parece-me que alguns nem largam a cadeira e o garrafão, encontro-os sempre no mesmo sitio com o copo na mão…Tudo boa gente, acordeões para a música e muita alegria!
Tudo se preparava para mais um grande dia de festa!
Quem quiser almoçar na cidade deve procurar poiso cedo, tudo vai ficar cheio durante muitas horas, nós optamos por acompanhar os festejos e ir compondo o corpo, em muitas das bancas de venda de comida, espalhadas pelo recinto da romaria.
Pela tarde de sábado não havia como perder o
Cortejo Histórico-Etnográfico Viana “Caravela do Mar”
Quatro horas de desfile, 3.000 figurantes, 31carros alegóricos, muita música e alegria, características das grandes romarias do Minho, preencheram esta tarde de sábado, sem esquecer os muitos outros eventos que vão acontecendo pelas ruas da cidade, e que fazem com que o tempo em que se está na grande romaria passe rápido. Tinha chegado a noite e os festejos não paravam… os desfiles de trajes, os espetáculos de raiz popular, as desgarradas…
Até ao grande fogo de artifício!
As rotinas da vida caseira, obrigavam-nos a regressar. Na segunda –feira, com muita pena nossa, tivemos de deixar Viana do Castelo de manhã cedo, antes da chegada dos muitos transportes públicos que entopem o transito, e rumar ao Sul. Estrada nacional por aí abaixo, mas para compensar a tristeza de deixar a romaria, decidimos ir fazer um “catering” ao Pedro dos Leitões. Sabemos que todos conhecem um sitio ótimo para comer o bácaro, mas para nós o melhor é mesmo…
E pouco depois já ele repousava na nossa mesa acompanhado com o bom vinho verde, uma salada, as batatas e as caralhotas.
O leitão cumpriu bem com a sua missão.
Continuámos a viagem de regresso e fomos visitar o Mosteiro de Santa Clara-aVelha, o estacionamento foi muito perto da entrada do monumento.
http://santaclaraavelha.drcc.pt/site/index.php
N 40° 12´00´´
W 8° 26´02´
Um café com umas “Clarissinhas de Coimbra” ( um doce conventual que só se vende na cafetaria do Mosteiro) e uma fantástica vista para as ruinas do Mosteiro.
A fundação do Mosteiro data do século XIII, e a história ligada a Dona Mor Dias, uma nobre de Coimbra que procurava instituir um convento, onde se louvasse a vida de Santa Clara, e á contenda entre ordens religiosas para a instalação do mosteiro, merecem a nossa atenção. Uma muito bem organizada exposição sobre as origens e trabalhos feitos na recuperação do mosteiro, são logo á entrada, propostos aos visitantes, tudo isto apoiado com uma apresentação multimédia.
A sua história está ligada ao rio Mondego, e ás inundações que foi sofrendo pelo aumento do nível das águas, foi totalmente abandonado em 1677. Teve outras ocupações menos nobres, habitação agrícola, palheiro, etc., No inicio do século XX, foram iniciados trabalhos arqueológicos e de recuperação das águas que o inundavam, até que em 2001 se lançou um projeto para a recuperação completa do Mosteiro.
Hoje a visita permite compreender a vivencia das freiras no Mosteiro, e dos aspectos sociais a ele ligados
Para nós a viagem terminava com a contemplação deste testemunho histórico.
Não tinham sido muitos os dias em viagem, mas regressávamos contentes por termos mais uma vez podido percorrer este pais que tanto amamos. Apenas nos desgosta ver alguns a estragar o que milénios construíram…
Mas novas viagens esperam por nós, basta abrir os mapas, para descobrir novos destinos e a autocaravana volte á estrada.
“HAVEMOS DE VOLTAR A VIANA”
FIM