
ALTO ALENTEJO
FRONTEIRA – FLOR DA ROSA –ALTER DO CHAO CRATO
CASTELO DE VIDE – MARVÃO – CAMPO MAIOR
O Outono ia solarengo, alguns dias disponíveis para viajar de autocaravana, qual seria o destino? Vamos aproveitar estes últimos dias de Sol e calor, vamos para o Alto Alentejo. Soubemos que o Centro de Interpretação da Batalha dos Atoleiros já estava em pleno funcionamento, e foi para Fronteira que nos dirigimos ao iniciar esta viagem. Estivemos nesta vila, aquando de uma recriação da Batalha de Atoleiros que tinha deixado boas recordações, fomos relembrar esses momentos.
Ver viagem – Na Batalha de Atoleiros
Passámos por Estremoz e aproveitámos a área de serviço para autocaravanas do Intermarché, para uma “mudança técnica”, e claro que o frigorifico ficou mais composto para esta viagem, devemos apoiar quem nos trata bem…
Pouco depois já estacionávamos em frente ao Centro de Interpretação de Batalha de Atoleiros. Situado na Av. Heróis dos Atoleiros, não levanta qualquer problema para podermos estacionar as autocaravanas, neste local existe o Pavilhão Gimnodesportivo com um parque nivelado, que será uma boa solução para a pernoita, nós já o usamos mais que uma vez.
N 39° 03´09´´
W 07° 38´46´
Edifício moderno mas que se funde na estrutura urbana, o Centro de interpretação da primeira grande operação militar de D. Nuno Alvares Pereira, agrada assim que entramos, pela forma como está organizado, e pela simpatia dos guias que nos vão acompanhar na visita.
Mais do que visitar um museu, o que encontramos é uma narrativa do contexto em que no dia 6 de Abril de 1384, um pequeno grupo de portugueses decididos a lutar pela sua nacionalidade, enfrentaram a poderosa força militar Castelhana. Tiveram de se “desenrascar”, e encontrar os meios para ultrapassar a diferença do número de combatentes. Usando táticas de combate de inspiração inglesa, D. Nuno ordenou aos seus homens montados, que lutassem a pé, junto dos lanceiros, besteiros e fundibulários, formassem um quadrado, e beneficiando de um terreno alagadiço, atrás do qual dispôs os seus homens, infringiu uma pesada derrota aos orgulhosos nobres castelhanos.
Da batalha que se deu nas proximidades da vila de Fronteira, não existem achados arqueológicos ou documentos originais, por isso a solução encontrada por Johan Schelfhouf, um projetista Belga, já responsável pelo Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, foi através dos meios multimédia e cenográficos, levar o visitante a compreender o contesto histórico da batalha, descodificar algumas lendas, e reconhecer as consequências deste confronto. O suporte científico para este projeto foi dada pelo Professor João Gouveia Monteiro da Universidade de Coimbra.
A visita apoiada por um áudio-guia, começa com a contemplação de uma reprodução em tamanho real, do fresco de Martins Barata existente na sala de audiências do tribunal local, uma obra do Estado Novo representando a Batalha de Atoleiros. Esta visão artística da história foi muito influenciada pela época em que
foi feita, mas é o ponto de partida por um percurso cénico, que nos situa na época da batalha.
Vamos percorrendo vários espaços, onde a teatralização da época em que se situa a crise 1383-1385, nos insere no contexto histórico português e europeu.
Acontece depois uma das surpresas deste espaço, a reconstrução em tamanho real de cena representada no fresco da batalha.
Com o apoio de meios multimédia vamos compreendendo o que terá acontecido durante a batalha, e alguns aspetos são curiosos, na representação do fresco aparecem arqueiros, não estiveram presentes nesta batalha, apenas os besteiros foram usados neste combate para o lançamento de setas…
Numa sala seguinte podemos ver um filme sobre a batalha, com uma realização respeitando a história, e com muitos figurantes, será de certeza o segundo momento alto desta visita.
Imbuídos de todo este espírito de luta pela nossa nacionalidade, procurámos dar o nosso contributo…
Foram momentos muito agradáveis os que passámos nesta visita, e um especial agradecimento ao pessoal presente no Centro, pela sua simpatia e esclarecimentos, que tornaram esta visita ainda mais interessante.
http://atoleiros1384.cm-fronteira.pt
A viagem continuou pela estrada em direção a Alter do Chão, vale a pena fazer uma pequena paragem á saída de Fronteira, junto á praia fluvial e centro de piscinas.
A tarde ia caindo e optámos por ir visitar Flor da Rosa, por qualquer razão esta é a hora em que mais gostamos de chegar a esta simpática vila alentejana.
Ao viajarmos por terras onde D. Nuno Alvares Pereira esteve tão presente, não podíamos deixar de visitar a vila onde terá nascido.
Com duas fontes do século XV, e dois Solares Barrocos esta é uma vila muito rica em património arquitectónico, mas o Mosteiro de Flor da Rosa é a obra que se destaca na estrutura urbana.
Um dos melhores exemplos de mosteiro fortificado da península, , terá sido mandado construir pelo pai de D, Nuno, o primeiro Prior de Crato, D. Álvaro Gonçalves Pereira, em 1356.
A igreja-fortaleza, o paço-acastelado e as restantes dependências conventuais, mostram as muitas alterações porque tem passado esta edificação. Aqui foi a sede da Ordem do Hospital que a partir do século XVI foi convertida na Ordem de Malta.
No seu interior está instalada uma unidade hoteleira, com estrada pelo Claustro
Á entrada do mosteiro, está instalado um posto de turismo, onde nos devemos dirigir para se efetuar a visita.
O sismo de 1755, um grande temporal no século XIX, e algum abandono, fez com que entrasse quase em ruina, só a partir de 1940 começaram as obras de restauro. Na igreja está exposta uma memoria descritiva, que nos conta o passado deste espaço. Curiosa é a lenda que dá o nome a este local, a descobrir…
Para quem visite Flor da Rosa pela primeira vez, não deixe de visitar as olarias, penso que ainda deverá estar uma em laboração, e esta arte tem por aqui longas tradições. Na gastronomia tenho boas recordações de umas migas de cenoura com entrecosto frito… O estacionamento não levanta problemas em Flor da Rosa, merece que se faça uma visita.
As estradas em muito bom estado por este Alto Alentejo, fazem com que as deslocações entre as localidades sejam rápidas, e assim pouco tempo depois estávamos junto ao castelo de Alter do Chão.
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O dia estava a terminar, depois de ficarmos um pouco pelas esplanadas do Largo Barreto Caldeira junto ao Castelo, fomos estacionar no nosso poiso habitual.
Praceta Joaquim Vitorino Namorado, no centro da vila, e próximo da GNR.
N 39° 11´56´´
W 7° 39´37´
A noite foi calma, e pela manhã a proximidade do mercado municipal permitiu a compra do pão, e alguns géneros alimentares necessários para mais um dia.
Esta é uma vila onde nos sentimos sempre bem, o estacionamento, gastronomia, história, preocupação da edilidade com a cultura regional, são alguns dos motivos que nos fazem voltar a Alter. Comecemos a nossa visita pelo Museu Municipal.
Instalado na “Casa do Álamo”, um antigo solar agrícola construída em 1649, e remodelado em 1732, é uma construção de traça retangular de dois andares, em que o piso térreo era destinado à exploração agrícola, e o piso superior se destinava á residência senhorial.
É um bom exemplo de recuperação de um imóvel que se poderia perder numa qualquer utilização comercial, ou em mais uma ruina… e que hoje é um centro de divulgação de cultura e alberga o posto de turismo.
Ao percorrer o piso térreo, vamos descobrindo como se vivia numa antiga casa agrícola, as peças expostas e complementadas com apoio de textos descritivos, permite compreender os ciclos da prática agrícola.
No piso superior, o andar nobre onde vivia a família, podemos encontrar uma decoração setecentista.
No espaço exterior um jardim á portuguesa, com lagos, tanques, e também a antiga nora e sistemas de rega.
Das janelas desta casa senhorial podemos observar interessantes vistas sobre a vila.
Ao terminar esta visita basta atravessar a estrada, e estamos na entrada do castelo que se situa no centro histórico urbano.
Construído por D. Pedro em 1359, de planta quadrangular, com uma torre de menagem que se eleva a 44m, é um imponente castelo medieval.
Este local sempre foi de muita importância, teve uma ocupação pré-romana, e era atravessado por uma das três estradas que ligavam Olissipo (Lisboa) a Emérita Augusta (Mérida). Mais tarde os Vândalos e os Muçulmanos deram-lhe atenção, os primeiros destruindo a fortificação que os romanos aviam construído, e os segundos levantando de novo as paredes, que defenderiam aqueles que por aqui se abrigavam
.http://www.historiadeportugal.info/castelo-de-alter-do-chao
No local onde estacionamos a autocaravana, existe o Cine Teatro Municipal, onde podemos visitar o Centro de Interpretação das Ruinas Romanas da Estação Arqueológica de Ferragial d´El Rei. Em 1954 aquando da construção do campo de futebol, foram postas a descoberto os vestígios da ocupação romana.
A visita começa no campo onde decorrem as escavações, o guia Pedro Pereira que nos acompanhou por este espaço, foi chamando a atenção para os pormenores que nos podiam fazer compreender, a importância deste espaço.
Uma das descobertas mais interessantes, é um mosaico romano de grandes dimensões, peça que remonta ao século IV, e exibe a figura da Medusa na parte central, retrata ainda uma representação de um poema épico, atribuído a Homero. É um exemplar único na península ibérica.
A visita continua nas instalações do Centro Interpretativo, onde podemos observar um laboratório para estudo das peças encontradas, e a exposição das mesmas, com textos de apoio para a sua melhor compreensão.
Estava na hora do almoço, e fomos experimentar as receitas regionais no Restaurante Páteo Real, localizado no centro da vila. A esplanada que possui nas traseiras, proporciona uma refeição agradável, se o tempo estiver de feição.
Depois do café fomos passear pelas ruas de Alter…
Esta fonte no largo do castelo, construída em 1556 pelo Duque de Bragança, D. Teodósio, que terá sido construída noutro local da vila, e trazida para o atual em meados do século XVII, chama logo a atenção, pelo seu estilo renascentista
Muitas outras fontes fomos encontrando no passeio, o que emprestava alguma frescura a esta tarde que ia quente.
Regressámos á autocaravana para um descanso e jantar…
A noite estava ótima para esta época do ano, e ainda houve disposição para um café, com vista noturna para o castelo.
O novo destino da viagem, foi a visita á Coudelaria de Alter Real. Localizada na Tapada do Arneiro, propriedade inteiramente murada e que ocupa uma área de 800 ha, com muito interesse por motivos histórico-culturais e para se compreender a importância dos equídeos ao longo dos séculos, para nós é sempre um motivo de visita, quando em viagem por estas paragens.
Situada a 4 Km da vila de Alter, o seu acesso está bem sinalizado. À entrada encontramos um posto de recepção, onde é cobrada a entrada para a visita. Esta é acompanhada e acontece duas vezes por dia, normalmente ás 11 e ás 15 horas, mas será útil consultar o site da Coudelaria.
O estacionamento dentro da Coudelaria não levanta problemas, e pode ser feita com vista para os equídeos.
Enquanto aguardamos pelo inicio da visita, vamos observando a evolução de alguns cavaleiros no picadeiro.
A recepção para o inicio da visita, funciona nas Casas Altas.
Fundada por D. João V em 1748, foi com D. José I, que se estruturou a Coudelaria de Alter. As instalações coudélicas, a formação da manada, a estrutura agrícola de apoio ao seu funcionamento, tudo se deve a estes dois reis e á Casa Ducal de Bragança. A sua atribulada história merece ser conhecida, e a funcionária da Coudelaria que nos acompanhou na visita, fez os possíveis para satisfazer a nossa curiosidade.
A visita ás Casas Altas, primeira cavalariça da Coudelaria, ao Pátio D. João VI, onde se processam as atividades de desbaste, seleção e testagem, sempre acompanhadas com as informações da guia, faz com que possamos compreender melhor a importância deste património, que importa preservar.
Todo o pessoal da Coudelaria é muito simpático, e a conversa flui facilmente sobre os aspectos da atividade equestre e não só… também sobre o prazer e envolvimento, com que todos eles desenvolvem a sua atividade profissional neste espaço. Trabalhar com seres vivos, para mais tão nobres como os que são criados na Coudelaria, só pode resultar se mais do que um trabalho, seja uma forma de vida.
Mas havia que continuar o trabalho, e o Mestre Duarte lá foi preparar mais um cavalo para o desbaste..
A prática da equitação está disponível com ou sem equitador, informem-se na recepção.
Se a principal atividade da Coudelaria é a manutenção da pureza da raça lusitana, também são mantidos em estábulo cavalos da raça Sorraia. Já representado em pinturas rupestres, é considerado o antigo cavalo bravo da Península Ibérica. Pela sua raridade é considerado uma raça em perigo de extinção.
A Eguada de puros lusitanos, na visita da tarde, podem assistir á saída para o campo.
Algumas dependências da Coudelaria, são ocupados como espaços museológicos, aqui exemplares de carros de tração animal de várias épocas. Uma exposição de armas e selas antigas, e práticas de combate relacionadas com a utilização bélica do cavalo, levou-nos até ao fim da visita.
Durante as conversas que se proporcionaram na visita, falou-se da possibilidade de passar a noite com a autocaravana dentro da Coudelaria, podem explorar esta hipótese … Outra solução para quem queira ficar por aqui uns dias na prática equestre, é usar a Casa de Campo da Coudelaria de Alter, uma unidade de turismo rural.
O pessoal da Coudelaria já se dirigia para o almoço, e também para nós estava na altura de terminar a visita e ir procurar poiso para o repasto.
Estávamos próximo da vila do Crato, e foi esta a nossa opção para procurar um restaurante. Estacionámos no centro histórico, no Largo Belo Moraes pois havia por ali lugar, mas perto existem muitos locais que possibilitam o parqueamento das autocaravanas.
Do almoço não fica grande memória, nem sempre acertamos, para ajudar á digestão fomos passear pelas ruas da vila do Crato.
Passear pelas ruas desta vila é mergulhar na história, o seu passado ligado á Ordem de Malta (ou do Hospital), justifica que ainda hoje todos os seus cavaleiros sejam aqui investidos. Prior do Crato era o titulo atribuído ao superior desta ordem. Eram extensos os domínios do Crato doados por D. Sancho II em 1232 a esta Ordem. Passando junto ao que resta do pano das antigas muralhas e descendo a rua 5 de Outubro em direção à Praça do Município, passa-se pela Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso, curiosamente instalada em frente da antiga cadeia do século XVIII, ao fundo encontramos um palácio de estilo barroco, onde está instalado o museu municipal, fechado de momento. Já na praça podemos ver o pelourinho e a Varanda do Grão Prior, tudo o que resta do antigo palácio do priorado, em frente o elegante Palácio Sá Nogueira do século XVII.
Em muitas outras ruas vamos descobrindo o testemunho do inicio desta urbe, casas de um só piso com portais medievais, onde se pode ver a nobre chaminé, tão característica ainda hoje das casas típicas alentejanas.
Muitas são as edificações de carácter religioso como a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, cujas origens se perdem pelo século XIII.
Poderíamos ficar por esta vila, visitando as olarias, as oficinas de artesanato e petiscando numa das tabernas típicas… mas ficaria para uma próxima estadia no Crato, a viagem deveria continuar, iriamos procurar a estada que nos levaria até Castelo de Vide.
As estradas do Alto Alentejo proporcionam viagens suaves e rápidas, pouco depois de termos deixado a vila do Crato já estávamos á vista de Castelo de Vide.
O estacionamento foi feito junto ás piscinas municipais em frente de uma unidade hoteleira, fora da época estival é fácil encontrar lugar para estacionar neste local.
N 39° 24´ 43´´
W 7° 27´02´´
Existem outros sítios para estacionar nesta vila e referenciados em vários sites de autocaravanismo, é procurar o que melhor se adapta ás necessidades de cada companheiro, este está muito próximo do centro histórico. Pouco depois já passeávamos por Castelo de Vide.
A “Sintra do Alentejo” como foi chamada por D. Pedro V, é uma vila que cresceu e se desenvolveu graças á sua situação geográfica, que lhe dava uma posição estratégica militar de relevo. Ocupando o alto de uma colina, o seu castelo que terá sido conquistado aos muçulmanos por D. Afonso Henriques em 1148, foi desde sempre palco de vários conflitos, uns bélicos outros de carácter político, até que em 1823 no seguimento da guerra Peninsular se acentuou a sua degradação.
Para um melhor complemento da visita, contactem o posto de turismo situado na Praça D. Pedro V.. Ainda tínhamos umas horas de Sol e decidimos subir a encosta do castelo, para visitar o núcleo urbano que subsiste dentro das suas muralhas.
Localizado muito perto da fronteira, o castelo e as suas muralhas tinham de assegurar a proteção dos seus habitantes e ao mesmo tempo assegurar a sua subsistência. Ao passear pelas ruas intramuros, vamos observando o seu tipicismo, com pórticos góticos, a Antiga Casa da Câmara, as suas fontes, a antiga cadeia, e a Igreja da Nossa Senhora da Alegria.
Este templo datado do século XVII, ficava situado no centro social do Burgo Medieval. A sua capela-mor em estilo barroco, está hoje descativado do culto religioso, e este espaço é atualmente um núcleo do turismo de Castelo de Vide, onde está exposta uma memória descritiva do património do concelho.
Ficámos á conversa com o Sr. Francisco Miguel, funcionário da câmara, que por ali trabalha todas as tardes, aguardando a visita dos turistas.
Um estudioso da história da vila com muitas memórias para contar.
Foi mais um daqueles encontros das “viagensEcompanhias”.
Estava na altura de regressar á autocaravana para jantar, fomos descendo as ruas até ao centro da vila, não deixando de ir “olhando” para este fim de tarde em Castelo de Vide.
Praça D. Pedro V. Com a Igreja Matriz dedicada a Santa Maria da Devesa… e ainda pensámos em jantar num restaurante local… mas na duvida sobre a ementa, decidimos jantar “Chez nous”.
Uma noite calma e um amanhecer radioso, só é pena que os fogos que assolaram esta região, tenham apagado muito do verde que conhecíamos de viagens anteriores.
Na foto seguinte, reparem na Igreja da Nossa Senhora da Penha, no cume da Serra de S. Paulo, um miradouro imperdível pela vista fabulosa sobre Castelo de Vide e seus arredores.
Regressámos á nossa visita a esta vila, que tão bem soube fundir as heranças cristã e judaica. Passámos pela Casa Amarela, conhecida por Casa Magessi, com a sua curiosa decoração “Rocaille”.
E de novo caminhámos pelas íngremes ruas que nos conduzem ao castelo. De medieval a fortaleza renascentista, muitos são os testemunhos arquitectónicos que se sobrepõem nas suas paredes, de planta quadrada adaptada ao terreno, tem o pano de muralha reforçado com cinco torres. Na sua visita é de referenciar uma barbacã ameada, a porta da vila e ainda se podem identificar traços da primitiva alcáçova.
Mas o melhor é pedirem para o porteiro vos acompanhar na visita…
Na visita ao castelo, podemos desfrutar de espetaculares vistas sobre Castelo de Vide…
A Vila cresceu muito no século XV, para acolher os judeus expulsos de Castela. Ainda hoje se podem ver talhadas nas ombreiras das portas os seus símbolos judaicos. Perseguidos também em Portugal pela inquisição, esta comunidade reconhecida pelo valor dos seus elementos, enquanto detentores de muitos e vários conhecimentos, teve de usar bastantes subterfúgios, para poder manter as suas tradições. Continuámos a nossa visita agora descendo na direção da Rua da Judiaria.
Vamos encontrando muitas portas góticas, Castelo de Vide possui o segundo maior conjunto de portas com esta arquitetura, curiosamente só é superada pela cidade marroquina de Fez. A chegada de vária levas de judeus fez com que o burgo crescesse, detinham eminentemente profissões urbanas como sapateiro e ferreiro.
Encontramos a sinagoga numa esquina com a Rua da Fonte.
No espaço que se acredita ter sido uma antiga sinagoga, e depois uma casa de habitação, existe hoje um núcleo museológico, que lembra a presença da comunidade judaica em Castelo de Vide. Em 1969 ao serem efectuadas obras, encontraram um armário que se pensa ter servido de Tabernáculo, permitindo assim situar aqui o lugar de culto praticado pela população que habitava a Judiaria.
Foi mantida a traça da habitação, e nos vários espaços que vamos percorrendo, encontramos uma pequena história dos Judeus em Castelo de Vide, algumas peças estritamente ligadas a este povo, e a ligação á diáspora, resultante das perseguições a que foram sujeitos.
Apesar de alguma controvérsia sobre a origem deste espaço, ninguém deve deixar de visitar este local pelo seu simbolismo, e por proporcionar uma visão muito interessante, sobre as comunidades judaicas em Portugal.
Saímos da Sinagoga e continuamos a descer pela Rua da Fonte, sempre rodeados de vasos com flores que enchem as fachadas das casas
Vamos na direção da Fonte da Vila, e a água que já se ouve correr, parece chamar a atenção deste “simpático habitante”.
Esta zona de habitação, fora da cintura de muralhas que protegia o burgo, era o local onde se fixou a comunidade Judaica, e esta fonte o local onde se abasteciam de água…Em 1498 o culto destes habitantes deixou de se fazer no tabernáculo, e esta comunidade decidiu que passaria a ser feito num espaço aberto, debaixo de uma cúpula suportada por seis colunas…
Teria sido esta a forma de os então cristãos-novos, poderem manter o seu culto judaico, usando a Fonte e a água para dissimularem a sua prática religiosa?
Muitas suposições e perguntas a que estas pedras podem responder, para quem souber encontrar as respostas…
Continuámos o passeio na direção do centro pela Rua Nova, é sempre a subir e encontrámos a Oficina-Museu do Mestre Carolino Tapadejo.
No século XVI, instalaram-se nesta rua 12 oficinas de ferreiros, artífices judeus, expulsos de Espanha, e aqui forçosamente convertidos em Cristãos Novos.
Por aqui se manteve esta atividade até ao século XX, tendo sido o Mestre Carolino Tapadejo, que aqui trabalhou na oficina da família entre 1945 e 2001, o ultimo herdeiro destes saberes. Entre as muitas ferramentas de trabalho perguntem por um martelo que devido á sua forma, é considerada como a peça mais antiga, vindo ainda do tempo Judaico.
A nossa visita por Castelo de Vide estava a terminar, passámos pela Praça D. Pedro V, onde está erigida a estátua de agradecimento pela visita do monarca a esta vila nos anos de 1800, pelo posto de turismo que fica neste local para saber informações do próximo destino, e deixámos para a próxima visita muito do que ainda há para ver, a Barragem de Póvoa e Meadas, onde podemos encontrar uma área de serviço para autocaravanas, o circuito megalítico, e muito mais que certamente iremos descobrir em futuras andanças por estas paragens.
Estava na hora de almoço, este seria na Portagem e foi para lá que nos dirigimos…
Esta pitoresca povoação rural banhada pelo rio Sever e já perto de Marvão, é um local muito agradável para uma refeição. O estacionamento não deve levantar problemas, existe um parque junto ao rio perto da ponte nova, nós estacionamos um pouco mais á frente.
N 39° 22´54´´
W 7° 22´55´
Escolhemos entre a muita oferta para refeições, o Restaurante Sever, por se encontrar mesmo ao nível do rio, ter sombras frondosas, e a comida nunca nos ter desiludido. A vista para a vila do Marvão completa o deslumbramento deste local. Javali estufado acompanhado com uma farta salada, foi a escolha do dia. São vários os pratos de caça presentes na ementa deste restaurante, para os amantes destas especialidades podem ser uma boa opção.
Para um passeio depois do almoço, podem ser visitados a Torre Militar Medieval, a Ponte Velha ou como é conhecida Ponte Romana, e alguns percursos pedestres devidamente assinalados, alguns por trilhos romanos, dada a proximidade da antiga cidade romana de Ammaia.
Nós fomos visitar o Moinho da Cova, um antigo moinho movido pela energia hidráulica, beneficiando da proximidade do rio.
Podemos reviver a atividade de um Moinho de Grão
Existe também uma loja de venda de produtos artesanais, e promovem passeios turísticos…
A Vila da Portagem oferece ainda um Centro de Lazer com piscinas, um polidesportivo, e um parque bio saudável. Motivos para uma visita não faltam.
Continuámos a nossa viagem visitando o mais importante vestígio romano existente no norte Alentejano, a Cidade Romana de Ammaia.
Muito perto da vila da Portagem e localizada em S. Salvador de Aramenha, o acesso é fácil e pode-se estacionar junto ao museu.
A Cidade de Ammaia foi elevada a “Civitas” cerca do ano 45 D.C. e obteve o estatuto de “Municipivm” no século I, atestando a sua relevância e dimensão dentro da cultura romana, calcula-se que ocupasse uma área de 25 ha, e o seu território administrativo, estendia-se pelo distrito de Portalegre, e entrava mesmo no atual território espanhol, Apenas uma pequena parte do seu espaço urbano, se encontra com intervenção arqueológica.
No museu podemos observar testemunhos da cultura material romana e um vídeo que permite compreender a sua importância.
Os trabalhos de campo continuam procurando trazer até aos nossos dias, os testemunhos do passado. Algumas notas explicativas fornecidas na recepção do museu, permitem uma melhor interpretação do espaço com intervenção arqueológica.
Terminada a visita, seguimos viagem para a vila de Marvão.
O estacionamento foi feito na área de serviço para autocaravanas, localizada junto ao Convento á entrada da vila, e devidamente assinalada.
A uma altitude de 860m, na Serra do Sapoio no Alto Alentejo, encontramos a Mui Nobre e Sempre Leal Vila de Marvão, e nós que já caminhámos de Castelo de Vide até esta vila, bem sabemos o que representa subir as escarpas onde se situa.
Nesta viagem foi mais fácil, a estrada é muito boa e a autocaravana não teve qualquer dificuldade em “amarinhar” pela encosta.
Começámos a visita entrando nas muralhas pela Porta de Ródão, onde podemos começar de imediato a perceber a estrutura defensiva da vila medieval.
Uma visita ao posto de turismo situado muito próximo desta porta, para se obter informação turística, e continuámos na direção do castelo.
Tem sido feito um bom trabalho de restauração da paisagem de Marvão, não se veem antenas de televisão nem fios passados pelos telhados, o que empresta á vila um tipicismo mais acentuado. É pena que muitas casas se encontrem abandonadas e a merecer recuperação.
O castelo aparece encavalitado na crista da colina, com um aspeto maciço, merece o Titulo de Fortaleza Inexpugnável.
A sua estratégica posição foi reconhecida pelo muçulmano Ibn Maurán, que no século IX, terá mandado construir este castelo para se refugiar aquando da sua revolta contra o Emirato de Córdoba.
Na segunda metade do século XII foi conquistada por D. Afonso Henriques, vindo a tornar-se um bastião importante no controle e povoamento da linha de fronteira.
A constante ameaça castelhana, fez com que o seu quotidiano fosse marcado pela atitude ativa de defesa. No inicio do século XIV, D. Dinis mandou construir uma cerca urbana para melhor proteger o burgo e reforçou o castelo.
Durante a sua visita muitos vão ser os motivos de interesse, a cisterna que podia providenciar água durante um cerco de seis meses, o antigo Páteo de Armas, procure descobrir a Porta da Traição ou suba á Torre de Menagem.
As paisagens são de cortar a respiração, sentimos que estamos num ninho de águias!
Mesmo quando a visita termina e nos afastamos do castelo, este não deixa de impressionar, explorem a sua história, que vem até ás Invasões Peninsulares, á Revolta da Maria da Fonte… quase até aos nossos dias.
No passeio pela vila visitem o pequeno museu etnográfico, onde podem ler a oração a Santa Bárbara para afugentar as trovoadas, as edificações religiosas, a Fonte do Concelho admirável peça setecentista, e que no século XIX foi trazida pedra por pedra para o interior do burgo…
Ou fiquem por uma esplanada saboreando uma bebida num qualquer fim de tarde.
Nós abandonámos a vila de Marvão para nos dirigirmos á autocaravana, pretendíamos seguir viagem até á vila de Campo Maior.
Chegámos já a noite caia na planície Alentejana, o estacionamento foi feito no local que habitualmente usamos, um parque junto ao Campo Desportivo e em frente dos Bombeiros.
N 39° 00´46´´
W 7° 03´45´´
Jantar na autocaravana, e nem os bombeiros tiveram muito trabalho nessa noite, proporcionando um sono calmo. Pela manhã decidimos tomar o pequeno almoço na Pastelaria Periquito, Rua Combatentes da Grande Guerra, fica muito perto do estacionamento e os croissants cumprem a sua missão.
Esta vila que pode ser conhecida por muitos como a Vila das Flores de Papel, tem muito mais para oferecer do que apenas as Festas do Povo.
A sua história começa com a presença romana, depois foi dominada pelos Mouros durante mais de 500 anos, segue-se uma ocupação castelhana, após a conquista aos muçulmanos por cavaleiros cristãos da família Pérez de Badajoz, e só fica a fazer parte do território português, após o Tratado de Alcanizes, juntamente com Olivença e Ouguela.
A sua atribulada história continua com muitas peripécias, D. Dinis reforça o seu castelo em 1310 tornando esta vila uma praça forte, muitos mais factos se iram passar até que em 1732, um raio cai no paiol do castelo e em consequência, 2/3 da vila fica destruída, tudo foi reconstruído por D. João V.. As invasões francesas, as lutas entre liberais e absolutistas, epidemias como a de cólera que em 1865, matou uma média de duas pessoas por dia durante dois meses, um não acabar de peripécias que fazem parte da história desta vila, e merecem ser conhecidos…
Começámos a visita pela Praça da República, onde se situa a sede do Município com uma escadaria que merece a nossa atenção, e o Pelourinho datado de 1740, construído com uma coluna de mármore encimada por uma esfera de onde saem quatro armações de ferro. A estas se prendiam os criminosos, no topo de esfera a figura da justiça. Peça muito curiosa…
Muito perto, imersa no casario branco da vila, fica a Igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora da Expectação, teve a sua construção terminada no ano 1646. Edifício imponente de três naves, tem o seu acesso por uma rua estreita, fato curioso, pois normalmente estes edifícios estão localizados em praças ou amplos largos.
Notar o Baptisfério, com uma imponente pia Baptismal e os muitos e elegantes altares que adornam as suas paredes.
Junto á Igreja Matriz está uma da maiores curiosidades desta vila, a Capela dos Ossos. A sua construção foi motivada pela tragédia da explosão do paiol do castelo, que já referimos anteriormente, foram recolhidos os ossos dos habitantes que pereceram nesta tragédia, e aqui ficaram com a inscrição feita com ossos das costelas…“Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”.
É a segunda maior capela do pais com estas características, a seguir á existente na Igreja de S. Francisco em Évora.
Esperamos que o encontro dos nossos… com estes, ainda demore algum tempo, e continuámos a visita á vila.
Tudo por aqui fica perto, e logo á frente na Rua de Olivença, fomos encontrar o Lagar Museu.
Esta espaço museológico que nos fala sobre a produção do azeite e do seu contexto na nossa sociedade, foi criado a partir do antigo lagar de azeite, do Palácio Visconde d’Olivã, um dos mais antigos edifícios da Vila.
Estas casas nobres procuravam organizar-se como unidades que proporcionassem o máximo de autonomia, conforto e segurança aos seus moradores. Lugar de residência de famílias da nobreza portuguesa, a sua história merece ser investigada. A visita que percorre os espaços ligados ao trabalho agrícola, mostra uma interessante coleção de utensílios relacionados com a produção do azeite, e ainda os jardins de recreio, de quem por aqui habitou.
A guia do museu Sra. Demetria Agapito, com a sua simpatia foi comentando dados curiosos sobre as peças expostas, lembrando a sua importância e utilização num quotidiano, que não está muito longe dos dias de hoje. No final é proporcionada uma prova de azeitonas e azeite de produção local
Saindo deste espaço vamos encontrar o Largo do Barata, com uma fonte e um edifício que nos chama a atenção, é um “ Assento de Provisões de Boca”, construção de cariz militar que podia garantir a defesa da vila, se sujeita a cerco por vários meses. Foi construído para dar apoio á Praça Militar de Campo Maior no ano de 1796, segundo traça do engenheiro militar, Tomás de Vila Nova e tinha muita importância na defesa estratégica da fronteira leste de Portugal.
Hoje perdeu a sua relevância militar, mas é a porta de entrada para se conhecer a vila de Campo Maior, das suas origens aos dias de hoje. Neste espaço encontramos o Museu Aberto.
O seu nome indica que é um núcleo museológico em constante e aberta construção. Aqui estão reunidos documentos históricos e etnográficos das gentes de Campo Maior, ocupando os vastos espaços do edifício, o seu espolio vai permitindo ao longo da visita, que se recolham informações sobre história, tradições, artes e ofícios, gastronomia, ou melhor dizendo, todas as vertentes da cultura local.
Este Museu Aberto, merece só por si uma demorada visita a Campo Maior!
Finda a visita estava na hora do almoço, optámos por um restaurante que oferece-se comida regional, e na Rua 1º. De Maio, fomos encontrar a casa de repasto “Primavera”.
E em boa hora o fizemos, é um daqueles encontros que nos trazem felicidade…
Um Cozido de Favas á Alentejana…
Um sabor… aquelas favas perfumadas com coentros…
O preço certo, o atendimento correto, vamos voltar!
E que melhor para terminar um almoço como este? Só pode ser um café Delta.
E nós fomos á origem… na fábrica de Cafés Delta está instalado o Centro de Ciência do Café.
Do desejo de criar um espaço com características únicas, que transmitisse o conhecimento sobre o café, nasceu este centro de divulgação, sobre esta bebida consumida em todo o mundo.
Mas este projeto é mais do que tudo isto, é essencialmente uma vontade de “partilha” que tem pautado a vida do Comendador Rui Nabeiro.
Numa visita com meios media sempre presentes, vamos percorrendo a vida do café, desde a sua plantação…
Apresentação das doenças que pode sofrer e a forma de as evitar, da fauna e da flora, ligadas ás suas zonas de cultivo.
Os vários métodos de transformação e torrefaçam do grão.
Uma mostra imensa de utensílios, máquinas, embalagens e instrumentos ligados ao uso do café. O primeiro veiculo usado pela família Nabeiro para a distribuição deste produto.
Muito fica por contar nestes apontamentos sobre esta visita, mas o melhor será virem com as vossas autocaravanas pelo Alto Alentejo explorar estes recantos onde encontramos tão bem representada a arte de ser Portuguesa.
Enquanto tomava-mos um café oferta do Centro, íamos refletindo sobre uma mensagem do Comendador, escrita na parede da recepção.
Terminámos a nossa visita, e ficámos com vontade de regressar numa próxima viagem.
Regressámos á autocaravana e começámos o caminho de regresso a casa, tínhamos feito mais uma viagem, em que as companhias encontradas, tudo o que visitámos e vivemos, nos fazem sentir felizes por sermos autocaravanistas.
FIM