
Passaram 627 anos, desde que os Portugueses e os Espanhóis, se defrontaram na batalha de Atoleiros. Mais uma vez se comemorará na Vila de Fronteira, a vitoria dos Portugueses, que ajudara a recuperar a independência do nosso território.
Não seria necessário qualquer outro pretexto, para ligar o motor da autocaravana e partir para o Alentejo.
Para evitar o muito trânsito de uma sexta-feira, e uma greve dos Caminhos-de-ferro, optámos pela Crel e IC17, onde passámos junto as catedrais de consumo que ladeiam esta via. A seguir a Ponte Vasco da Gama, e passado pouco tempo já estávamos a pagar os 8,85 euros na portagem de Vendas Novas, a partir daqui, seguiríamos pela estrada nacional a caminho de Estremoz.
Finalmente as paisagens de que tanto gostamos, o dia tinha estado quente, e pela estrada fomos sentindo todos os cheiros que se desprendiam da vegetação, lembrando que a Primavera estava de volta.
Chegada a Estremoz, visita ao supermercado, que fica na estrada para Monforte. A saída apressada, não tinha possibilitado o aprovisionamento necessário para estes dias. Estacionamento para a noite na praça do Rossio, um óptimo local, onde se espera que as autocaravanas, se mantenham o mais discretas possível, para continuarmos a ter muitas noites de estacionamento, num local tão nobre como este. Um por do sol vermelho e um jantar a bordo foram o terminar deste primeiro dia de viagem.
Noite tranquila, pelo menos até às 6 da manhã, quando o barulho de carros e pessoas junto à autocaravana, nos fez pensar que devíamos ter estacionado na parte Norte da praça e não a Sul, pois estávamos junto à feira semanal, dos sábados, em frente à Igreja dos Congregados de São Filipe de Nery. Bom “no Alentejo ser como os Alentejanos”, um acordar mais cedo que o previsto e vamos para a feira.


As hortaliças, frutas, queijos, enchidos e muitos outros artigos da produção local, provocaram de imediato, um enorme arrependimento das compras do dia anterior.


Para nos recompormos, decidimos ir tomar o pequeno-almoço, numa das pastelarias que ladeiam a Igreja, o poiso habitual a “Formosa” estava muito cheia. Fomos para a “Pastelaria Aliança”, se a fachada do prédio já nos atraía pela sua originalidade, os pastéis de massa tenra, as empadas, os pasteis de bacalhau, também foram uma companhia muito original para as “meias de leite”.
A ideia inicial seriam os muitos bolos que enchiam o balcão, mas o óptimo aspecto dos salgados, levaram os mais corajosos a arriscar, e ficámos com vontade de repetir, numa próxima estadia em Estremoz.
O pequeno talho que fica entre as duas pastelarias citadas, o “Estremocense”, com atendimento feminino, cumpriu bem a sua missão, de fornecer os últimos aprovisionamentos para a estadia em Fronteira.

No Convento das Maltezas, situado no Rossio Marquês de Pombal, mesmo por detrás do local onde tínhamos estacionado a autocaravana, está instalado o Centro de Ciência Viva de Estremoz, onde desde 2005 se mostram as maravilhas do planeta Terra.
Era um dos locais a visitar nesta saída, e a visita veio a revelar-se de extremo interesse, muito tendo o guia contribuído para que tal acontecesse, durante a visita, graças à sua formação académica em biologia e geologia, transformou todos aqueles elementos estáticos da exposição, em factos animados, que muito enriqueceram, o nosso conhecimento sobre este planeta que habitamos.



Os Centros de Ciência Viva espalhados pelo país, tem constituído motivo de muitas saídas com a autocaravana, e de todos eles, saímos sempre com vontade de visitar o próximo.

Regresso à autocaravana para o almoço, e partida para a Vila de Fronteira, a estrada tem alguns troços em mau estado, e em que se tem de ter muita atenção ás duas passagens sobre antigas linhas de caminho de ferro, as lombas podem danificar alguns elementos do veiculo se a velocidade for excessiva. Passámos por uma bonita zona de sobrado. Vale a pena parar, junto ás duas fontes monumentais que se encontram nesta estrada, uma perto de Estremoz e a outra à entrada de Fronteira e lembrar os antigos meios de locomoção. Estas fontes que infelizmente têm vindo a desaparecer constituíam um lugar indispensável, para matar a sede aos animais de tracção.
Em Fronteira estacionámos junto ao Pavilhão Gimnodesportivo, parque amplo e nivelado, que oferece o local ideal de estacionamento para se visitar a partir de Setembro de 2011, o Centro de Interpretação da Batalha de Atoleiros, que esta a ser construído junto a este parque N 39 03 09 W 7 38 46
Neste parque fica o monumento em memória de Cândido de Oliveira, será interessante pegar no computador, e na net, compreender a vida desta figura do desporto Português.
Um acaso fez que encontrássemos uma família amiga, também ela de autocaravanistas, e assim com o grupo alargado, partimos à descoberta da Feira Medieval.


A encenação da ambiência medieval, e a recriação dos eventos históricos, são para nós um motivo para viajarmos pelo país e estrangeiro. E se as tasquinhas são um dos muitos motivos para estas visitas, também as conversas sobre os temas medievais são muito do nosso agrado, como a que tivemos com o pessoal muito simpático da Art Falcom, sobre a falcoaria.



Regresso a autocaravana para jantar e algum descanso, que a noite prometia muitas emoções, um torneio, espetáculos medievais e até comedores de fogo.





A noite com as suas sombras, suaviza os contrastes mais evidentes durante o dia, e a feira medieval ganha uma nova vida, levando a uma participação mais activa dos artistas e visitantes. A companhia dos nossos amigos, tornou ainda mais agradável esta noite, que iremos recordar por muitos anos. A autocaravana acolheu-nos cansados, mas satisfeitos das experiências vividas, e o sono foi breve a chegar.
O dia seguinte, teria como principal evento, a reconstituição da Batalha de Atoleiros, Mas havia ainda muito tempo pela frente, e a primeira tarefa do dia, seria encontrar pão fresco, num domingo? Em Fronteira? Missão impossível, por isso termos encontrado no mercado, que fica muito próximo do local onde estávamos estacionados, pão do dia anterior, já era uma vitória. Aproveitámos para um passeio matinal pela feira, que proporciona sempre momentos curiosos, como o encontrar o “ Rei da Fogaça”, de Santa Maria da Feira, a acender o lume do forno que iria trabalhar durante todo o dia.
Nesta Feira, o Rei tem de começar a trabalhar cedo.


Depois do pequeno-almoço, partimos para a zona industrial de Fronteira onde iria ter lugar a Reconstituição histórica da Batalha, mas antes passámos pela desactivada estação dos caminhos-de-ferro, localizada ao fim da avenida Heróis dos Atoleiros, sentido nascente.
As estações da CP, datadas do estado novo, são um testemunho etnográfico das zonas onde foram instaladas, dai que sejam sempre objecto da nossa curiosidade, esta por exemplo, está localizada junto aos antigos “Celeiros da Campanha do Trigo”. Com painéis de azulejos, mostrando actividade rurais alentejanas, ainda tem afixada a placa comemorativa do primeiro prémio do “Concurso de Estações Floridas”, que lhe foi atribuído em 1959 pelo então SNI.


Junto à estação, encontra-se uma placa descritiva do caminho pedestre, que nos leva por campos alentejanos, até ao verdadeiro local da Batalha de Atoleiros, e regresso claro. Nós já o fizemos em anterior visita e aconselhamos se estiver habituado a caminhadas, tiver calçado próprio, e sentido de orientação. O caminho está devidamente assinalado.


Continuámos na direcção do espaço onde se iria fazer a reconstituição da batalha, passámos pela estação de serviço, com um café… e chegados ao local tomámos posição para assistir ao momento alto do dia.
Havia mais companheiros autocaravanistas já instalados, o sitio é muito amplo e sem dificuldade de estacionamento.
Fomos convidados para almoçar na autocaravana dos nossos amigos, a refeição serviu de pretexto para experimentarmos uma nova máquina de café, mais uma tentativa para se solucionar um problema tão complicado a bordo… o convívio muito agradável só foi interrompido por avistarmos pela janela, os cavaleiros que tomavam posição para a batalha.


Pegámos nas máquinas fotográficas e rapidamente tomámos os nossos lugares, prontos para assistir à reconstituição da Batalha de Atoleiros.
Em 6 de Abril de 1384, num sitio pantanoso, entre Fronteira e Sousel teve lugar o confronto…mas não estávamos ali para ouvir uma lição de história mas sim para a viver, e foi o que aconteceu durante uma hora, em que acompanhámos o evoluir dos cavaleiros, peões e demais participantes.


Estiveram envolvidos na reconstituição elementos locais mas também muitos outros provenientes de vários países, Espanha, França, Itália, que com os seus conhecimentos de técnicas militares medievais, completaram da melhor forma, o grande esforço que a organização põe neste evento. Voltámos a Fronteira para o fim da feira, comprámos a ultima fogaça no “Rei”, e fizemo-nos à estrada de regresso, já a pensar na próxima saída.
A paixão pela cultura, relacionamento social e gastronomia, transpiram nas reportagens do autor. Aguardaremos mais historias!