
VIAGEM À MARGEM SUL
TEJO
(ALMADA E CORROIOS)
Durante uma conversa em família, alguém disse que…
“Santos da Casa não Fazem Milagres”
Bom tema para uma saída com a autocaravana pensei eu. Vamos passear por perto para nós, mas poderá ser uma boa opção de fim de semana, para quem resida noutras áreas do País.
Almada e o Moinho de Maré de Corroios, vão ser os temas desta viagem.
Saímos de manhã cedo com o destino de Cacilhas, atravessámos a Ponte 25 de Abril, e saímos da A2, seguindo as placas que indicavam Almada, de imediato aparecem as indicações da direção de Cacilhas, passámos pelo túnel e seguimos por dentro de Almada até chegarmos á rotunda de Cacilhas, este percurso urbano não levanta problemas para autocaravanas maiores, é percorrido pelos transportes públicos. Na rotunda de Cacilhas já junto ao rio, viramos á direita e vamos estacionar no parque que os Bombeiros Voluntários de Cacilhas, têm para este efeito, junto ao seu quartel.
O parque é plano, a proximidade do quartel oferece alguma segurança, e temos sempre oportunidade de colaborar com os bombeiros locais, estacionamento diário 1€!
Cumprimentámos o bombeiro de serviço, explicámos que íamos estacionar para a noite e perguntámos se a zona era segura? Tudo calmo, estes bares que se veem por aí estão desativados, e há sempre alguém aqui á noite…Material arrumado, portas trancadas e começámos o passeio por Cacilhas, subindo as escadas de um morro á esquerda, frente á Fragata D. Fernando e Glória que iriamos visitar mais tarde
De imediato somos atraídos pelas vistas sobre Lisboa que se descobrem a partir da margem sul
Cacilhas tem testemunhos da ocupação humana que remontam ao séc. VIII a. C., e desde sempre a sua proximidade de Lisboa, foram motivo da fixação de populações, como testemunha a Igreja da Nossa Senhora do Bom Sucesso, reconstruída em 1759. A facilidade de navegação do Tejo neste local, ainda hoje é testemunhada pelos Cacilheiros, que diariamente transportam milhares de passageiros entre as duas margens e mantém um interface de transportes públicos, que servem a margem sul.
No séc. XIX, era de muito agrado dos Lisboetas, ir a Cacilhas fazer um passeio de burro pelas hortas, comer petiscos nas tascas, ou almoçar o bom peixe fresco pescado por perto.
O Chafariz de Cacilhas reconstruído pela Câmara de Almada em 2012 segundo desenho do original de 1874, é testemunha destes tempos.
Era alimentado por uma mina de água do Ginjal para aqui canalizada, e certamente terá sido de grande importância para o quotidiano da comunidade. De notar as bicas que indicam as várias filas que se deviam formar, para a tomada de água
Continuámos o passeio pelo cais do Ginjal,
Ainda conhecemos esta zona cheia de movimento, e alguns dos seus restaurantes de grande fama, “Floresta do Ginjal” e o “Grande Elias” . Eram famosas as caldeiradas e as festas neste local. Uma forte atividade industrial, enriquecia com a presença de milhares de pessoas que aqui trabalhavam, o cais do Ginjal.
Hoje a maior parte dos edifícios está em ruínas, e dificilmente se consegue imaginar a azafama que por aqui se vivia, mas as vistas para Lisboa são fantásticas.
Continuámos o passeio até ao Museu Naval de Almada, passando pelo elevador panorâmico junto a um jardim muito agradável.
Inaugurado em 1991, e situado nas antigas instalações da extinta Companhia Portuguesa de Pescas em Olho-de-Boi, este museu com o seu espólio e memórias descritivas, leva-nos a conhecer a atividade de construção naval e de pescas que existiu em Almada.
Será bom refletir sobre a nossa história recente na área naval!!!
Durante a visita á alguns aspetos que são muito interessantes, a forja, que se instalava junto ao local onde era necessária
Os moldes para a fundição de uma hélice
A casa do risco, onde o navio começava a ser construído com moldes á escala de 1:1 para posterior corte…
Mesmo os menos interessados por estas artes, não ficarão indiferentes aos testemunhos aqui mostrados. O tempo passava sem darmos por ele, e o almoço já começava a ser uma opção imediata, ao falar com o pessoal do museu sobre restaurantes por ali perto, a conversa acabou por ir por outros caminhos…
Contaram que há uns dias atrás pela manhã, ao aproximarem-se das instalações do museu em companhia de alguns pescadores, avistaram um grupo de indivíduos, que procuravam com a ajuda de serras e um carrinho, roubar ferro de um guincho instalado no cais, parece que o roubo de metais por estes sítios é habitual, gritaram e chamaram a policia, os “trabalhadores” acabaram por fugir, mas deixaram para trás o material do roubo, as ferramentas e o carrinho. Os pescadores já chateados com estes roubos do património, deitaram ao rio o material que tinha ficado no local
Passados uns dias os “trabalhadores” foram lá ao museu, reclamar que queriam que lhes pagassem o material que tinha sido deitado ao rio, porque lhes fazia falta para “trabalharem”!!!!
Seguimos a indicação sobre o restaurante e fomos almoçar ao “Atira-te ao Rio”.
Passámos a Fonte da Pipa junto á praia das lavadeiras,
atravessámos de novo o jardim, e voltámos a passar pelo elevador, agora no sentido inverso
Já tínhamos passado pelo restaurante e ficado com curiosidade, mas como ainda estava fechado… agora já aberto e com a esplanada sobre o rio, foi a escolha certa.
Não havia o Bobó de Camarão, (15,50€) mas as Sardinhas Assadas (9,50€) cumpriram. A lista é provocadora de outras experiencias, e o local e a rusticidade do restaurante tornam a refeição muito agradável, emprestando mesmo algum romantismo ao momento.
A vontade de deixar a esplanada do restaurante, estava difícil de chegar, mas ainda havia muito para visitar… fomos para o Elevador Panorâmico da Boca do Vento.
Faz a ligação do rio com a cidade de Almada, ascende a 50m e efetua viagens sempre que solicitado ou de 15 em 15 minutos. No cimo do elevador, há uma esplanada com uma vista fabulosa sobre Lisboa o rio, e a zona antiga de Almada
Seria por aqui que o nosso passeio iria continuar, com a visita à Casa da Cerca
Ao sair do Mirador-esplanada do elevador, viramos á direita a subir, e chegamos ao Centro de Arte Contemporânea de Almada, instalado desde 1993 num solar típico dos séculos XVII-XVIII. A Casa da Cerca é um exemplo das tradicionais quintas de recreio que nesta época foram edificadas em Almada.
Ao entrar á direita visitámos a capela com azulejos setecentistas, figurativos em azul cobalto, e o teto com pinturas que cativaram a nossa atenção
Aquartelamento do regimento de Junot durante as Invasões Francesas, é hoje um centro de Artes Plásticas Contemporâneas e a visita demora-se pelas exposições em curso, a arquitetura do edifício, e as vistas sobre o rio e Lisboa.
Á said retomámos o caminho do elevador, e passámos junto ao Pátio do Prior do Crato. Provavelmente a mais importante residência senhorial de Almada. Hoje difícil reconhecer o espaço de estada da família real, e o local onde em 1580, Gil Vicente fez a primeira apresentação do “Auto da India”, perante a corte com a presença da rainha D. Leonor.
Será interessante uma pesquisa na net sobre o passado histórico deste lugar
Continuámos o passeio, pela zona antiga de Almada na direção do Castelo, e as placas toponímicas, atestavam a vivencia destes lugares
Deixámos o Castelo com o seu coreto, jardim e as vistas sobre o rio e descemos para o centro urbano. Ao passear por Almada não podíamos deixar de visitar a Rua Capitão Leitão, que durante muitas gerações foi o pulsar da vida social e comercial desta cidade. Com a antiga designação de Rua Direita tem instalado no numero 16, o Museu da Música Filarmónica. Local do nascimento do maestro Leonel Duarte Ferreira, uma das maiores figuras da vida associativa almadense, é uma homenagem a este músico, mas também uma porta que se abre sobre a vida das bandas filarmónicas.
Com uma cuidada e inovadora apresentação multimédia, este pequeno museu não deixa ninguém indiferente
A interatividade proporcionada durante a visita, com a possibilidade de se fazer soar os instrumentos filarmônicos, será certamente do vosso agrado, mesmos dos mais novos que parecem tão alheados destas realidades
Deixámos a parte antiga de Almada e com o aproximar do fim de tarde, fomos passeando pelas avenidas na direção de Cacilhas
Praça MFA… para nós será sempre a Praça da Renovação, muitas são as memórias que os cafés desta praça nos trazem…A passagem pelo Liceu Frei Luís de Sousa, a sala do Café Central e a sua cave com os matraquilhos… mas rapidamente fomos trazidos á realidade pelas mudanças que esta cidade apresenta
E quando nos preparávamos para um merecido descanso, já instalados na autocaravana, pensámos…
Estamos tão perto de Lisboa, é só apanhar o barco, a baixa está logo ali e… precisamos de fazer umas compras…
Para quê arranjar argumentos que pudessem contrariar esta ideia, claro vamos lá!!!
A centena de metros do estacionamento á estação fluvial foram feitos num instante
E já com os bilhetes comprados aguardámos a chegado do cacilheiro que nos levaria em 10 minutos ao Caís do Sodré
Achei estranho um barco tão grande para uma travessia tão pequena
Pois de facto, o barco que nos levaria para Lisboa, era um pouco mais pequeno
Iniciámos a viagem marítima passando junto ao Farol de Cacilhas. Entre 1885 e 1978 serviu para dar as coordenadas aos navios que fundeavam no Mar da Palha, desativado e transferido para os Açores, regressou ao seu local de origem numa obra de restauro da Câmara Municipal. Hoje é mais um testemunho da história naval de Almada
As duas margens são rapidamente unidas pelo cacilheiro, a viagem é um passeio que nos deixa com vontade de fazer um pequeno cruzeiro no Tejo.
Cacilheiros turísticos da Transtejo – de 1 de Abril a 31 de Outubro -saídas diárias do Terminal Fluvial do Terreiro do Paço ás 15h00 – Tel. 218824671/5
Lisboa recebeu-nos com uma luz, que só se encontra nesta cidade
A “Baixa” terá sempre muitas histórias para nós e fomos recordar os tempos de estudo em Lisboa, rua Barros Queiroz junto ao Rossio, a Cervejaria Brilhante.
Uma sopa e um bacalhau, encostado ao balcão, e naquele tempo a “Troika” tinha outro nome…
Para “rebater”, uma com elas, na Ginginha do Rossio
Depois continuámos o passeio e passámos pelo Café Gelo, junto ao teatro D. Maria II, para comprar pão para o pequeno almoço do dia seguinte
Subimos para o Chiado ao som dos Blues
Cumprimentámos o Pessoa que “curtia” ritmos africanos
Saudámos o Eça que lá continuava agarrado á sua musa
Ao descer a rua do Alecrim, já se avistava a autocaravana onde nos esperava uma noite tranquila, e reparadora de tantas andanças
Pequeno almoço tomado e saímos para visitar a Fragata D. Fernando e Glória. Parecia ancorada num parque de estacionamento
Instalada numa doca seca dos antigos estaleiros, Hugo Parry & Son, esta embarcação é o ultimo exemplar de fragata navegação á vela da Marinha Portuguesa, e também a última nau, a percorrer a “Carreira da India”. Fez a sua viagem inaugural em 1845 de Goa para Lisboa.
Fechando para o publico ás segundas feiras e dias Feriados, é possível fazer a visita entre as 10 e as 17h00 de todos os outros dias. www.museudamarinha.pt (exposições)
Construida em Damão na India Portuguesa no ano de 1843, por operários portugueses e indianos, foi usada madeira de teca para a sua construção
O navio está armado com 50 bocas de fogo
A visita a esta nau é uma viagem no tempo, ao percorrer os vários pisos, vamos podendo apercebermo-nos de como seria fazer a navegação de longo curso, e a forma como a vida se organizava a bordo
Para alguns as condições a bordo não seriam as melhores…
Terá estado disponível um áudio guia, que certamente seria enriquecedor da visita, parece que por falta de verbas não está em serviço… felizmente o pessoal de bordo procura com as suas explicações, satisfazer a curiosidade dos visitantes
Regressámos á autocaravana, e retomámos o nosso passeio pela margem sul, agora iriamos visitar o Cristo-Rei.
Já não nos lembrávamos da ultima vez que tínhamos feito uma visita a este monumento.
Inaugurado em 17 de Maio de 1957 e construído com donativos privados, o Cristo Rei, continua do alto dos seus 110 metros, a constituir o melhor miradouro, com vistas para a cidade de Lisboa
O percurso entre Cacilhas e o Cristo Rei é muito fácil, saímos na direção da Cova da Piedade, vamos até á rotunda do centro sul e a partir de aqui basta seguir as placa indicativas. O estacionamento junto ao monumento, é feito num parque de grandes dimensões, grátis e com apoio de bar
Comprado o bilhete numa das maquinas da recepção do Santuário, é aguardar pelo elevador que rapidamente nos coloca no patamar de acesso ao monumento
Somos recebidos pelas habituais lojas de recordações
E após um pequeno lance de escadas, encontramos a imagem consagrada ao Sagrado Coração de Jesus
As vistas em 360° são fabulosas… olha a nossa autocaravana, parece tão pequenina
Estava na hora do almoço, e decidimos aproveitar as condições do parque de estacionamento do monumento, para o repasto. Visitámos a capela no sopé da imagem e saímos agradados com a visita… bom talvez o preço de acesso seja um pouco elevado…4€
O passeio estava a terminar, mas decidimos visitar o Moinho de Maré de Corroios
Corroios é uma vila do concelho do Seixal, mas muito próxima de Almada. Regressámos á rotunda do centro sul e depois seguimos as placas que indicam Corroios. Entrámos numa via rápida onde seguimos sempre em frente até terminar, ai encontramos uma rotunda, saímos na segunda á esquerda, aparece de imediato o moinho
Construído em 1403 por ordem de D. Nuno Alvares Pereira, é um dos raros Moinhos de Maré, que se mantém em funcionamento na área do Estuário do Tejo
Em 1980 foi adquirido pela Câmara Municipal do Seixal, que o restaurou e abriu ao publico, estando incorporado no Ecomuseu Municipal
A memória descritiva sobre a vida deste moinho, presente no inicio da exposição, leva-nos por ordens religiosas, navegações distantes, aproveitamento da força das marés, terramotos, e muito especialmente sobre a capacidade do homem de usar os meios da natureza em seu favor.
Este é um “museu vivo” onde se aprende uma arte, que teve inicio em Portugal no século XIII
Na companhia do Sr. José Meias, guia do museu, fomos percorrendo a história encerrada nas paredes deste moinho
Aqui nesta balança decimal, aquando do seu restauro, foram encontradas umas peças metálicas dissimuladas no prato de pesagem…acerto de medida ou forma de aldrabar a pesagem das moagens? Responda quem souber…
Durante a visita um meio áudio visual completa os testemunhos históricos que vamos encontrando
No engenho de moer a mó de cima gira e a de baixo está fixa… parada!!!
Nós não queríamos… “ficar na mó de baixo”, e com bastante pena nossa, havia de que terminar a visita e regressar a casa.
Despedimo-nos do já amigo José Meias, e com um ultimo olhar sobre a sala de moagem, prometemos voltar, para num dia em que a maré estivesse propicia, ver o engenho em funcionamento
O Moinho de Maré de Corroios está inserido na área de influencia do Sapal de Corroios, e é a zona húmida mais bem conservada de todo o estuário do Tejo. Local de grande riqueza em flora e fauna é navegável nos períodos de maré cheia, e possibilita passeio de canoa onde se podem ver aves aquáticas migratórias… mas isto fica para uma próxima viagem.
Agora só nos restava passar a ponte de regresso a casa, arrumar a autocaravana e preparar a próxima saída
FIM